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Das Cousas qe obsẻrvey no mar, e qe hay aqui na terra, farey o mẻsmo, por ser hũa larga historia, e porq
em razaõ de acabar a Theologia, naõ tive tempo pera o fazer.

O qe he dẻ costumes & d'estas terras, farẻy hũa rẻcopilaçaõ de tudo, e serà materia algũ tanto curio=
sa; e V.R. se n' este comẻnos quizẻr algũa cousa, podrà P pedir ao P. Assistente de Portugal as
annuas de varias missoẽs, qe agora se mandaõ, e algũas das quays eu mesmo trasladey, e tem
fellissimas cousas dignas de se saberem.

Enviarey tambem a V.R. outras curiosidades, como pedras de cobra, Amianto de Malabar, qe he
mineral qe se naõ consume no fogo, se naõ qe fica mays apurado, e branco &. e muyto me peza,
qe a scastidadẻ do tempo me naõ pmitio fazelo logo, como eu dezejava, em razaõ da arriba=
da a Sacatorà, e da viagem d'hum anno.

o P. Sebastiaõ d'Almeyda tambem manda muytos recados a V.R., e diz qe farà o mesmo. Poys meu Caris.mo Pre Athanasio, rẻceby grand.ma consolaçaõ da carta de V.R., alembrandome sem=
pre as cortezias qe tenho rẻcebido; e tomara, se por impossivel se pudesse, duas horas fallar com
V.R., sendo as cartas hũ fallar morto, e sem alma. Naõ deyxey ate agora de encomendar
cada dia a D., assim na missa, como nas Oraçoẽs a vida, e prosperidade de V.R., nem no
hẻy de deyxar atè morrer. V.R. tambem faça ǒ mesmo algũa vez por esta pobre alma, co=
mo he a minha.

Soubẻmos inda agora qe o P. Grimaldo, qe o anno passado s'embarcou pera Macao em Mayo,
junto de Malaca fez naufragio, rompendo a fragata ẻm hũ penedo. pẻrdeose tudo, salvandose sô
quatro pẻssoas com elle. o P. Mucciarelli està na missaõ de Maysùr, e faz milagrẻs. O P. Azzi,
Aynỹ, fieschi & jà estaõ Em Macao. Do P. Marino naõ se sabẻ, aonde esteja. e aquelle Cina,
qe elle levou com sigo a Roma, chamado Nicolaos Fonseca, qe estava aqui no recolhimento,
sahio o anno passado, oupor melhor dizer, botaraõno fora. O P. Henrique Roth, morreo Em
Agra o anno passado, com lagrimas de todos, polla sua grande Charidade, e virtudes Apostolicas.
e V.R. podia ver o qe d'elle se conta em hũa annua do Mogòr, qe eu tenho traslada=
do em lingoa Italiana, e vay ao P. Geral. Acca

Acabo, meu Pre Athanasio, com os olhos arrasados Em lagrimas, e supplico V.R. à mandar
pera cà muytos papeys de Solfa bizarros, e varios, e algũ dos seus libros; poys naõ hay
nenhũ, por muyto qe eu os busco, e desejo. e aqui P rogandolhe da Magestade Divina
todo bem, aos seus Santos Sagrif.os muyto me encomendo &
De Goa aos 23. de Janeyro de 1670.

De V.R.

Humil.mo e Affett.mo Servo.
Phelippe Libertozzi


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Das Cousas que observei no mar, e que há aqui na terra, farei o mesmo, por ser uma larga história, e porque em razão de acabar a Teologia, não tive tempo para o fazer.

O que é de costumes etc. destas terras, farei uma recompilação de tudo, e será matéria algum tanto curiosa; e Vossa Reverência se neste comenos quizer alguma cousa, podrerá por pedir ao Padre Assistente de Portugal as ânuas de várias missões, que agora se manda, e algumas das quais eu mesmo trasladei, e têm felíssimas cousas dignas de se saberem.

Enviarei também à Vossa Reverência outras curiosidades, como pedras de cobra, Amianto de Malabar, que é mineral que se não consome no fogo, senão que fica mais apurado, e branco etc.. E muito me pesa, que a escacidade do tempo me não permitiu fazê-lo logo, como eu desejava, em razão da arribada a Socotorá, e da viagem d'hum anno.

O Padre Sebastião de Almeida também manda muitos recados à Vossa Reverência, e diz que fará o mesmo. Pois meu Caríssimo Padre Athanasio, recebi grandíssima consolação da carta de Vossa Reverência, alembrando-me sempre as cortesias que tenho recebido; e tomara, se por impossível se pudesse, duas horas falar com Vossa Reverência, sendo as cartas hum falar morto, e sem alma. Não deixei até agora de encomendar cada dia a Deus, assim na missa, como nas Orações a vida, e prosperidade de Vossa Reverência, nem o hei de deixar até morrer. Vossa Reverência também faça o mesmo alguma vez por esta pobre alma, como é a minha.

Soubemos ainda agora que o Padre Grimaldo, que o ano passado se embarcou para Macau em Maio, junto de Malaca fez naufrágio, rompendo a fragata em um penedo. Perdeu-se tudo, salvando-se só quatro pessoas com ele. O Padre Mucciarelli está na missão de Maiçor, e faz milagres. O Padre Azzi, Aynỹ, Fieschi etc. já estão em Macau. Do Padre Marino não se sabe, aonde esteja. E aquele China, que ele levou consigo à Roma, chamado Nicolaos Fonseca, que estava aqui no recolhimento, saiu o ano passado, ou por melhor dizer, botaram-no fora. O Padre Henrique Roth, morreu em Agra o ano passado, com lágrimas de todos, pela sua grande Caridade, e virtudes Apostólicas. E Vossa Reverência podia ver o que dele se conta em uma ânua do Mogor, que eu tenho trasladado em língua Italiana, e vai ao Padre Geral.

Acabo, meu Padre Athanasio, com os olhos arrasados em lágrimas, e suplico Vossa Reverência à mandar para cá muitos papeis de Solfa bizarros, e vários, e algum dos seus livros; pois não há nenhum, por muito que eu os busco, e desejo. E aqui por rogando-lhe da Majestade Divina todo bem, aos seus Santos Sacrifícios muito me encomendo etc. De Goa aos 23. de Janeiro de 1670.

De Vossa Reverência

Humilíssimo e Afetuosíssimo Servo.
Phelippe Libertozzi


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